The Mountain Astrologer

Introdução à Astrologia Helenística (2) – Profecções Anuais, Lotes e Liberação Zodiacal

por Chris Brennan

PantheonNa primeira parte desta série, você foi apresentado a alguns dos conceitos básicos em Astrologia Helenística, aprendendo como esses conceitos eram utilizados a fim de determinar informações acerca do destino de um indivíduo. Nesta parte final, apresentarei duas técnicas de regência do tempo, usadas por astrólogos Helenísticos para determinar o curso da vida de um nativo. Primeiro, contudo, eu gostaria de elaborar algumas questões levantadas anteriormente sobre as diferentes posições filosóficas que eram adotadas por astrólogos no mundo antigo. Como você verá, muitas destas que foram definidas em tempos antigos ainda são muito relevantes para a prática astrológica hoje.1

A Filosofia na Astrologia Helenística

 Em meu artigo anterior, discuti brevemente as várias maneiras com as quais astrólogos Helenísticos viam os planetas como “sinais” ou “causas” de eventos futuros, tal como o conceito de que, nos dois casos, esses planetas agiram como instrumentos do destino. O pano de fundo filosófico adotado pelos astrólogos provê o contexto no qual estes usam e interpretam a informação extraída das técnicas, portanto elaborarei essas questões aqui, antes de lançar a discussão sobre técnicas de regência do tempo.

Diagram 1As visões filosóficas adotadas por astrólogos no período Helenístico podem ser praticamente divididas em quatro posições distintas, ilustradas pelo diagrama 1. O eixo vertical é composto de duas posturas rivais, que determinam os planetas como “sinais” de eventos futuros ou “causas” de eventos futuros. O eixo horizontal representa um espectro; de um lado está a frente que chamo de “completo determinismo”, cuja visão é de que todos os eventos mundanos são totalmente pré-determinados enquanto, no outro lado do espectro, está a frente que chamo de “determinismo parcial”, pois crê que apenas alguns eventos são pré-determinados.

O Mecanismo Astrológico: Sinais vs. Causas

A questão de saber se a Astrologia funciona como resultado dos planetas e outros corpos celestes agindo como “sinais” ou “causas” de eventos futuros é uma questão que provavelmente foi definida pela primeira vez durante o período Helenístico. Na tradição mesopotâmica anterior, os astrólogos parecem ter conceitualizado os planetas como capazes de transmitir mensagens divinas à humanidade sobre eventos futuros, mas eles próprios não eram vistos como causas para a ocorrência de tais eventos. Assim como um relógio de parede é capaz de te dizer que são 9h da manhã sem ser a causa ou razão pela qual são 9h, os planetas eram similarmente vistos como capazes de prover sinais de eventos futuros sem necessariamente serem a razão para suas ocorrências. Então, a visão original mesopotâmica era de que Astrologia funciona como resultado de fenômenos celestes agindo como sinais, ao invés de causas.

Mais tarde na tradição Helenística, a adoção de tal conceito permitiu alguma flexibilidade interpretativa de posicionamentos astrológicos, já que era entendido que significadores astrológicos agiam como representação simbólica daquilo que representavam na Terra. Então, por exemplo, o astrólogo do século II, Vettius Valens, diz que o Sol representa o pai no mapa natal de uma pessoa ou a pessoa que é como um pai.2 Esse ponto é sutil, mas importante. Para Valens, o Sol é conceitualizado como sendo simbolicamente significativo para a figura paterna no mapa de alguém, seja ou não tal figura o pai biológico. Isso é similar à visão moderna de que planetas agem como significadores arquetípicos de pessoas e coisas na vida de uma pessoa.

Em algum ponto durante o período Helenístico, os astrólogos começaram a conceitualizar os planetas como sendo as causas de eventos futuros, fosse direta ou indiretamente. Essa conceitualização alcançou sua forma mais elaborada no trabalho do astrólogo do século II Claudio Ptolomeu. Em sua obra, os planetas eram vistos como capazes de influenciar eventos e pessoas na Terra por emitirem diferentes níveis de calor e umidade, sendo através dessas qualidades gerais que todas as significações individuais podiam se manifestar, uma vez filtradas pelas esferas planetárias antes de chegarem à Terra. Por exemplo, Marte era conceitualizado como excessivamente quente e seco e isso era pensado resultar em efeitos específicos em humanos, como raiva ou impetuosidade, quando Marte tinha uma influência proeminente no mapa natal. Por outro lado, Saturno era conceitualizado como excessivamente frio e seco, assim se tornando associado com qualidades como lentidão e depressão. Em cada caso, o significado específico de cada um dos planetas é produto da influência geral desses no ambiente e temperamento do nativo.

Há alguma evidência de que o papel dos planetas agindo como sinais ou causas era um tópico sendo debatido tanto dentro quanto fora da comunidade astrológica no período do Império Romano. Aparentemente, após o século II, a visão de que os planetas agem como causas se tornou mais dominante pela influência de Ptolomeu, apesar de haver evidências de que a frente com base em sinais também persistiu nos séculos posteriores.

Determinismo Astrológico: Completo vs. Parcial

Aparte das diferentes visões sobre o mecanismo por trás da Astrologia, também havia diferentes opiniões acerca do grau ao qual nossas vidas e eventos são pré-determinados. Algum nível de determinismo é inerente ao próprio conceito de Astrologia Natal, já que a premissa básica é de que algo pode ser dito sobre o futuro de alguém, com base na posição dos astros no momento de nascimento. A implicação é de que pelo menos algumas partes do futuro devem ser organizadas previamente. Contudo, os astrólogos não tinham plena certeza quanto ao grau no qual eventos e circunstâncias na vida de uma pessoa são pré-determinados.

No começo do Império Romano, a filosofia do Estoicismo estava bem em voga e alguns dos astrólogos mais estoicamente inclinados adotaram a posição de que tudo o que ocorre na vida de uma pessoa é destinado desde o nascimento. Neste conceito, não são apenas os eventos e circunstâncias na vida de alguém que são fadados a ocorrer, mas até mesmo o próprio caráter e ações da pessoa. Porque o futuro era visto como completamente pré-determinado, esses astrólogos criam que a vida poderia ser prevista em detalhes.

No outro extremo do espectro estavam os astrólogos mantendo que, enquanto algumas coisas eram pré-determinadas de acordo com o mapa natal, nem tudo é pré-determinado e há espaço para os nativos fazerem escolhas que modifiquem ou alterem seus destinos. Ptolomeu é um dos que mantinham essa visão, já que pensava que as influências dos planetas podem ser por vezes contrariadas. Outro astrólogo que pode ter mantido essa visão foi Doroteus de Sidon e outros astrólogos como ele, que defenderam o uso de astrologia eletiva, sob a pressuposição de que aquilo que é fadado a ocorrer não está estabelecido até o momento no qual é tomada alguma ação iniciatória. Se alguém controla o momento inicial de algo, então há possibilidade de também manipular os resultados.

Diagram 2 A maioria dos astrólogos da tradição Helenística podem ser inclusos em uma das quatro áreas sobrepostas, onde sua visão sobre determinismo e a mecânica por trás da astrologia se intersectam. Por exemplo, Ptolomeu defendia uma aproximação causal na astrologia, onde planetas influenciam indivíduos, mas também mantinha a visão de que algumas coisas sobre o futuro poderiam ser modificadas ou alteradas, ficando assim posicionado na categoria do determinismo causal/parcial. (Ver Diagrama 2) Por outro lado, Firmicus Maternus também defendia uma aproximação causal à astrologia, vendo os planetas como as causas daquilo com o que eram relacionados, mas cria que o destino de uma pessoa não poderia ser alterado, o que o coloca firmemente no campo do determinismo causal/completo. Na outra ponta do espectro podem estar astrólogos como Vettius Valens, que em certas partes de sua obra pareceu manter a visão de que planetas agem primariamente como sinais para eventos futuros, crendo ao mesmo tempo que tudo é completamente pré-determinado. Eu suspeito que astrólogos como Doroteus de Sidon cairiam na quarta categoria, apesar de não sabermos muito sobre suas filosofias devido à perda de muitas partes não técnicas de seu trabalho original. Para alguns astrólogos como Doroteus, os planetas seriam vistos como sinais de eventos futuros, mas o futuro era visto como negociável, primariamente pelo uso de astrologia eletiva e aplicações a ela relacionadas.

As questões inicialmente levantadas e discutidas por astrólogos durante os períodos do Império Romano e Helenístico são, eu creio, ainda muito relevantes para astrólogos hoje. Seria útil refletir sobre onde suas próprias visões acerca da astrologia se colocam em relação a este espectro, já que a visão de um astrólogo sobre como a astrologia funciona informa a maneira que ele ou ela usa e aplica as técnicas na prática.

Regentes do Tempo

Na parte 1, delineei alguns conceitos básicos que eram usados para determinar informações acerca da vida de um nativo com base em seu mapa. Isso tem a ver primariamente com o sistema quádruplo dos planetas, signos, casas e aspectos. Para um astrólogo Helenístico, o próximo passo depois de ter acessado o potencial natal de posições planetárias no mapa de alguém é então determinar quando tais potenciais se manifestarão de fato na vida do nativo. Então se, por exemplo, o mapa indica que o nativo se casará, a pergunta natural a seguir seria “quando?”. Ou se o mapa indica eminência, é natural perguntar “quando o nativo se tornará eminente?”. A fim de responder questões assim, os astrólogos helenísticos empregavam uma série de procedimentos de regência do tempo conhecidos como técnicas dos “Regentes do Tempo”.

O termo “Regente do Tempo” é uma tradução literal do grego chronocrator. A premissa por trás de tais técnicas é que nem todas as partes do mapa de uma pessoa estão ativas o tempo todo, mas que o potencial da promessa natal de uma posição específica num mapa fica dormente até ser ativada. Apenas quando um planeta é ativado ou desperta como Regente do Tempo é que se torna capaz de manifestar seu potencial natal na vida do nativo.

A seguir, apresentarei duas técnicas que foram recuperadas da tradição Helenística, que sinto serem particularmente interessantes na maneira em que podem ser usadas para prever eventos na vida de um nativo. Muitas das técnicas de Regentes do Tempo foram perdidas durante o curso de transmissão da astrologia nos últimos 2000 anos e apenas recentemente começamos a recuperá-las, pela tradução de textos antigos em Grego e Latim.

É válido apontar que, apesar desses sistemas terem sido perdidos no Ocidente, o conceito base sobreviveu e tem sido continuamente praticado na tradição Indiana pelos últimos 2000 anos. Astrólogos Indianos referem-se à sua coleção de técnicas como sistema de Dasha e, em alguns casos, a aplicação desses sistemas é bem similar à maneira como astrólogos Helenísticos utilizavam técnicas de Regentes do Tempo. Astrólogos Ocidentais podem ter muito a ganhar ao estudarem esses paralelos enquanto continuamos a recuperar tais sistemas.

Profecções Anuais

O sistema mais difundido de Regentes do Tempo na tradição Helenística foi uma técnica hoje chamada de Profecções Anuais. Quase todo astrólogo proeminente, cujos trabalhos sobrevivem desde o período Helenístico, usou ou referiu-se a esta técnica.

Na versão básica da técnica, você começa do signo que contém o Ascendente; o regente desse signo se torna o “Regente do Ano” pelo primeiro ano da vida do nativo. Por exemplo, se Gêmeos estiver ascendendo, Mercúrio se torna ativo como Regente do Tempo pelo primeiro ano da vida do nativo. Se Câncer estiver ascendendo, a Lua então é ativada pelo primeiro ano da vida do nativo. Se Sagitário estiver ascendendo, Júpiter é ativado e assim por diante.

Diagram 3
Diagrama 3: Profecções Anuais
Quando uma pessoa nasce, comece com o 0, no mesmo signo do Ascendente, que é a primeira casa ou signo inteiro. Este é o primeiro ano de Profecção de casa 1. Quando a pessoa faz um ano de idade, a Profecção muda para o próximo signo em ordem zodiacal, que é a segunda casa ou signo. A Profecção avança um signo por ano para cada ano na vida do nativo, então cada um repete a cada 12 anos.

Quando uma pessoa nasce, comece com o 0, no mesmo signo do Ascendente, que é a primeira casa ou signo inteiro. Este é o primeiro ano de Profecção de casa 1. Quando a pessoa faz um ano de idade, a Profecção muda para o próximo signo em ordem zodiacal, que é a segunda casa ou signo. A Profecção avança um signo por ano para cada ano na vida do nativo, então cada um repete a cada 12 anos.

Após o primeiro ano da vida do nativo (assim que chegam em seu primeiro aniversário), o signo que segue após o signo ascendente se torna ativo e o regente daquele signo assume como Regente do Ano. Assim que o segundo ano do nativo se completa, o próximo signo em ordem zodiacal é ativado, com seu regente elevado a Regente do Ano, e esse processo continua dessa forma todo ano, um para cada signo. Eventualmente, o signo do Ascendente se torna ativo novamente, aos 12 anos, com seu regente se tornando Regente do Ano mais uma vez, recomeçando o ciclo. A cada 12 anos, a profecção retorna para o signo ascendente, primeiro aos 12, depois aos 24, 36, 48, 60 e assim por diante. (Ver Diagrama 3) Por exemplo, digamos que há um mapa natal com Ascendente em Câncer. Pelo primeiro ano da vida do nativo, o signo de Câncer é ativado e assim a Lua se torna a Regente do Ano. No segundo ano da vida do nativo, começando em seu primeiro Retorno Solar, o próximo signo em ordem zodiacal, Leão, é ativado e o Sol se torna o regente do segundo ano. No ano seguinte, Virgem é ativado, então Mercúrio se torna Regente do Ano e assim por diante.

A importância dessa técnica está na premissa básica: quaisquer eventos ou circunstâncias que ocorrerão na vida de uma pessoa, indicados por um planeta e por sua posição e condição no mapa natal, acontecerão quando tal planeta for ativado como Regente do Tempo. No contexto do sistema de Dasha, astrólogos Indianos frequentemente resumem este princípio com a máxima: “Qualquer que seja a promessa de um planeta num mapa natal, será cumprida no ano em que o planeta for ativado” e é bem este o espírito da aproximação Helenística com os Regentes do Tempo também. Então, se um planeta está bem-posicionado e promete coisas boas, os anos nos quais tal planeta for ativado terão boas coisas ocorrendo na vida do nativo. Por outro lado, se um planeta está mal posicionado e promete coisas ruins, então os anos onde estiver ativo serão os que trarão coisas ruins para a vida do nativo. Por isso é tão importante aplicar todos os conceitos básicos primeiro, para termos um entendimento completo da condição de cada planeta no mapa natal, já que não se pode fazer uma previsão sobre o que ocorrerá quando um planeta for ativado a menos que se entenda exatamente o que aquele planeta está dizendo sobre a vida da pessoa.

Diagram 4Vamos usar o diretor de filmes Francis Ford Coppola como exemplo. Alguns planetas em seu mapa estão muito bem colocados e outros bem mal posicionados. (Ver Diagrama 4) Assim, esperaríamos que os anos nos quais os planetas bem colocados fossem ativados como Regentes do Tempo fossem positivos para ele, enquanto os anos em que os mal posicionados são ativados seriam difíceis para ele. E, como se provou, há dois conjuntos de anos que ilustram bem esse ponto.

As filmagens do filme “O poderoso Chefão” aconteceram entre o fim de março e começo de agosto, em 1971, seguidas de vários meses de edição e trabalho pós-produção. A maior parte desse período coincidiu com um ano de profecção de Virgem para Coppola, que começou quando ele fez 32 anos de idade em 7 de abril de 1971. Isso ativou seu Mercúrio natal como Regente do Ano. Mercúrio não é o pior planeta em seu mapa, mas não está muito bem colocado enquanto retrógrado, debaixo dos raios do Sol, co-presente 3 com Saturno e sendo subjugado por uma quadratura superior (Ver parte 1) de Marte. Conforme sua sorte, a produção de “O Poderoso Chefão” foi de fato um período difícil para ele. De acordo com Copolla:

“’O poderoso Chefão’ foi um filme bem malquisto enquanto o fazíamos. Eles (o estúdio) estavam muito insatisfeitos com aquilo. Não gostavam do elenco. Não gostavam da maneira que eu estava filmando. Eu sempre estava à beira da demissão. Então foi uma experiência extremamente medonha. Eu tinha duas crianças pequenas, com a terceira nascendo no meio daquilo... quando acabou, eu não estava nem um pouco confiante de que seria bem-sucedido e se eu conseguiria algum dia outro emprego.”4

O filme foi lançado no ano seguinte, em março de 1972, pouco antes do próximo retorno solar de Coppola, quando ele passou para seu ano de profecção de Libra, em sua casa 10. Isso ativou sua Vênus natal como Regente do Ano, que é o planeta mais bem posicionado em seu mapa, sendo benéfica, pertencente à séquito favorável num mapa noturno (ver parte 1), no signo de sua exaltação, numa das casas positivas, configuradas ao Ascendente, co-presente com Jupiter e em aversão 5 ao maléfico contrário ao séquito, Saturno. O filme foi um grande sucesso após o lançamento, recebendo tanto numerosos prêmios quanto aclamações de críticos e do público, estabelecendo Coppola firmemente como um dos principais diretores em Hollywood.

Esse tema de variações acentuadas na experiência de Coppola com certos anos, baseado em quais planetas estariam ativos, se tornaria um padrão para ele, com o exemplo mais famoso ocorrendo mais tarde na mesma década. Filmagens para o longa “Apocalipse” se iniciaram em março de 1976, pouco antes de Coppola mudou para um ano de profecção de Aquário. Em seu mapa, Aquário é regido por um Saturno mal posicionado, que é um planeta maléfico, contrário ao séquito noturno, no signo de sua queda ou depressão, sendo subjugado por uma quadratura superior de Marte, em aversão aos dois benéficos e sob os raios do Sol. Esse ano em que Saturno foi ativado como regente do ano é publicamente conhecido como um dos anos mais difíceis da vida de Coppola, devido a uma série de infortúnios amplamente publicados, dificuldades e impedimentos acerca das filmagens de “Apocalipse”. Logo após o início das filmagens, ele foi forçado a substituir um dos atores principais. Então, poucos meses depois, um tufão varreu a área das Filipinas onde as gravações ocorriam, destruindo algumas partes do set e forçando a produção a fechar por várias semanas. Coppola também teve que lidar com o roubo da folha de pagamento do elenco, um ator principal retornando do hiato tão seriamente acima do peso que o fim do filme teve de ser reescrito e, finalmente, um dos atores tendo um ataque cardíaco. Os problemas com a produção do filme foram tão numerosos que a esposa de Coppola mais tarde lançou um documentário relatando todos que surgiram.

Muito dos próximos dois anos foram gastos em pós-produção; o filme foi finalmente lançado no verão de 1979, depois que Coppola mudou para um ano de profecção de Touro e sua bem-posicionada Vênus natal foi novamente ativada como Regente do Ano. O filme foi recebido com aclamações públicas, reafirmando a posição de Coppola como um dos principais diretores de Hollywood, apesar da notoriamente difícil produção do filme.

Profecções Anuais e Trânsitos

Enquanto algumas vezes há similaridades e repetições de certos temas quando os mesmos planetas são ativados como Regentes do Tempo de acordo com Profecções Anuais, há também diferenças, às vezes enormes, que podem normalmente ser vistas quando se estuda os trânsitos ao mapa de alguém num determinado ano. Isso nos traz a um ponto importante acerca de Profecções Anuais: quando um planeta se torna ativo como Regente do Ano, é tanto em sua posição natal quanto por trânsitos.

O que isso quer dizer é que quando um planeta é ativado como Regente do Tempo, não é só o potencial natal daquela posição que vem à tona, mas também trânsitos tanto envolvendo aquele planeta quanto a partir dele serão mais significativos durante aquele período. Por exemplo, se Júpiter é ativado como Regente do Ano em um determinado mapa, então todo trânsito e aspecto ocorrendo com o Júpiter natal naquele ano vai ser mais importante que o normal, assim como quaisquer aspectos que Júpiter em trânsito possa fazer também.

Esse conceito, que falta na teoria moderna de trânsitos, é crucial, pois nos permite assinalar quais trânsitos serão mais significativos e vão de fato coincidir com eventos específicos em um determinado ano. Esse é o motivo pelo qual astrólogos frequentemente têm a experiencia de ver um trânsito que pensam ser importante ocorrendo no futuro próximo, mas passando por ele sem nada notável acontecer. A razão é que, para que um trânsito resulte em um evento específico, o planeta deve estar ativo como Regente do Tempo.

Diagram 5 Para ilustrar o conceito, usaremos o mapa do cineasta George Lucas, famoso por filmes como as séries “Guerra nas Estrelas” e “Indiana Jones”. (Ver diagrama 5) Cedo em sua vida, antes de entrar para o cinema, Lucas queria se tornar um piloto de corridas profissional, passando muito tempo no ensino médio dirigindo carros e participando de corridas. No entanto, quando fez 18 anos, entrou num ano de profecção de Escorpião, ativando Marte como Regente do Ano. Cerca de um mês depois, em 12 de junho de 1962, Marte em trânsito fez uma conjunção exata com sua Vênus natal aos 11° de Touro, na casa 1, que é a regente de seu Ascendente, e naquele dia ele se envolveu em um grande acidente automobilístico, quase morrendo. Neste caso, um dos trânsitos mais importantes do ano foi destacado devido ao planeta envolvido ser Marte. Curiosamente, no mesmo dia, Vênus estava também aplicando uma conjunção com seu Marte natal, ajudando a prover parte da mitigação necessária que ajudou a garantir que ele sobrevivesse ao acidente. Após esse evento, Lucas perdeu o interesse em corridas de automóveis e foi para a faculdade, onde eventualmente se interessaria por cinema.

Assim, Profecções Anuais podem ser uma ferramenta muito poderosa para identificar períodos importantes na vida de uma pessoa, especialmente quando combinadas com trânsitos. A habilidade de integrá-las com trânsitos a fim de identificar os mais significantes em um determinado ano provê um exemplo útil de como Astrologia Helenística pode por vezes aprimorar técnicas e teorias ainda em uso hoje.

Lotes

Antes de discutir a segunda técnica de Regentes do Tempo deste artigo, preciso entrar numa tangente rápida e falar sobre um conceito técnico à parte que é um pré-requisito necessário. Este é o conceito de “Lotes”, chamados frequentemente em tempos modernos de “partes árabes”. Acontece que astrólogos árabes do período medieval herdaram esse conceito da tradição Helenística anterior, portanto o termo “partes árabes” é, em realidade, incorreto. Por tal razão, usarei a designação “Lotes” em lugar de “partes árabes” pelo resto deste artigo.

Um lote é um ponto matemático em um mapa, que leva um conjunto específico de significações ou tópicos. Por exemplo, O Lote da Fortuna era frequentemente associado com o corpo do nativo, enquanto o Lote do Espírito era associado com a mente. Há também outros lotes que significam coisas como filhos, pais, sucesso, conflito e outros temas assim.

Lotes normalmente são obtidos quando medida a distância entre dois planetas em um mapa e depois projetando a mesma distância a partir do grau do Ascendente. Por exemplo, num mapa diurno, o Lote da Fortuna é calculado medindo a distância mais curta a partir do grau do Sol até o grau da Lua, depois medindo a mesma distância a partir do Ascendente, indo na mesma direção que a medida entre o Sol e a Lua.

Diagram 6 Vamos usar o mapa de Al Gore como exemplo. (Ver Diagrama 6) Ele tem um mapa diurno, com o Sol aos 10° de Áries, a Lua a 3° Capricórnio e o Ascendente aos 4° de Leão. Para encontrar o Lote da Fortuna num mapa diurno, medimos a menor distância a partir do Sol até a Lua, depois a mesma distância a partir do Ascendente. Quando medimos a distância do Sol em Áries de Al Gore até sua Lua em Capricórnio, descobrimos que há aproximadamente 97° de distância entre eles. Pegamos então os mesmos 97° e medimos a partir do Ascendente, indo na mesma direção que usamos quando medimos a menor distância entre o Sol e a Lua, que neste caso é em sentido horário. Medindo 97° do grau do Ascendente indo em direção horária nos leva a 27° Áries, onde o Lote da Fortuna está aproximadamente localizado neste mapa.

A maior parte dos lotes segue essa fórmula geral de medir a distância entre dois pontos no mapa e depois medindo a mesma distância do grau do Ascendente. A própria natureza dos lotes é normalmente derivada de dois fatores: (1) a natureza dos dois planetas envolvidos no cálculo e (2), a ordem em que os dois planetas são medidos, no sentido de partir do grau do planeta A para o planeta B, ou do planeta B para o A. Para a maior parte dos lotes, faz diferença de qual planeta se inicia a medida, seja de A para B ou de B para A.

Os dois Lotes mais usados na tradição Helenística eram os Lotes da Fortuna e do Espírito. Aqui estão as fórmulas para calcular os dois:

Lote da Fortuna

Mapa Diurno: Meça a distância partindo do Sol até a Lua e depois projete a mesma distância a partir do Ascendente.

Mapa Noturno: Meça a distância partindo da Lua até o Sol e depois projete a mesma distância a partir do Ascendente.

O racional por trás do cálculo é que, nos dois casos, você inicia do Luminar que é favorável ao séquito naquela parte do dia, medindo a distância até o Luminar contrário ao séquito naquela parte do dia. Dessa maneira, o cálculo para o Lote da Fortuna imita, simbolicamente, o processo de ir da luz para as trevas. As trevas são, portanto, o conceito primário por trás das significações associadas com o Lote da Fortuna.

Lote do Espírito

Mapa Diurno: Meça a distância partindo da Lua até o Sol e depois projete a mesma distância a partir do Ascendente.

Mapa Noturno: Meça a distância partindo do Sol até a Lua e depois projete a mesma distância a partir do Ascendente.

O racional por trás do cálculo do Lote do Espírito é que, nos dois casos, você começa do Luminar contrário ao séquito durante aquela parte do dia, medindo então a distância até o luminar favorável ao séquito. Dessa forma, o cálculo do Lote do Espírito simbolicamente imita um processo de ir das trevas para a luz. Por essa razão, o conceito de luz se torna o tema primário por trás das significações associadas ao Lote do Espírito.

A maioria das significações associadas com os Lotes são derivadas da distinção básica entre fortuna ser associada com trevas e espírito com luz. Para nossos propósitos, as significações mais importantes associadas com cada lote como resultado dessa distinção são que o Lote do Espírito é associado com a mente e o intelecto, enquanto fortuna é associada com o corpo e encarnação física. Há também outras associações relevantes, tais como o Lote do Espírito ter a ver com escolhas deliberadas e ações que o nativo toma por sua própria vontade, enquanto fortuna é relacionada com circunstâncias que estão fora do controle do nativo. Tudo isso se torna relevante no contexto da segunda técnica de regência do tempo, que utiliza esses dois lotes como pontos de partida.

Liberação Zodiacal

Com trânsitos e progressões, astrólogos são capazes de estudar períodos na vida de uma pessoa que duram dias, meses ou até mesmo anos. Mas como contabilizamos períodos mais longos de tempo e fases na vida de uma pessoa que podem durar por décadas? É aqui que algumas das mais avançadas técnicas no período Helenístico podem cair como uma luva.

No quarto livro de sua antologia, o astrólogo do século 2°, Vettius Valens delineia uma técnica de Regentes do Tempo poderosa, que veio a ser conhecida como Liberação Zodiacal.6 Essa técnica é usada para dividir a vida do nativo em segmentos de tempo distintos. Pode-se pensar nisso como separar a vida do nativo em capítulos e parágrafos, como se a própria totalidade da vida fosse um livro com narrativa contínua. Enquanto profecções anuais são limitantes ao estudo de anos individuais, Liberação Zodiacal pode prover informações sobre décadas inteiras da vida de um nativo. Além disso, uma vez divididos os capítulos, Liberação Zodiacal pode ser usada para identificar alguns dos pontos altos e baixos ao longo da história, bem como quais capítulos são mais importantes no contexto do livro como um todo.

Calculando períodos de Liberação Zodiacal

Diagram 7 Em Liberação Zodiacal, cada signo do zodíaco é designado um certo número de anos baseado no período planetário associado ao planeta regente daquele signo. Por exemplo, Áries é governado por Marte, cujo período planetário é de 15 anos. Portanto, no contexto de Liberação Zodiacal, o número de anos associados ao signo de Áries é 15. Touro é regido por Vênus, que tem um período planetário de 8 anos, então o tempo associado a Touro é 8 anos e assim por diante. Câncer tem 25 anos, Leão 19, Virgem e Gêmeos são 20 anos, Libra e Touro têm 8 anos, Escorpião e Áries têm 15 anos, Sagitário e Peixes são 12 anos, Capricórnio 27 e Aquário tem 30 anos. Estes são os períodos associados com cada signo no contexto de Liberação Zodiacal. (Ver Diagrama 7)

Para calcular um período de Liberação Zodiacal de um nativo, você deve primeiro determinar onde estão os Lotes do Espírito e da Fortuna no mapa. Esses dois lotes são o ponto de partida da técnica, assim como o Ascendente é usado como ponto de partida para as Profecções Anuais.

O lote por onde você começa provê o contexto para os períodos produzidos. Se quer-se estudar carreira e direção de vida de um nativo, deve-se calcular o Lote do Espírito e usar o signo onde este se localiza como início. Contudo, se procura-se estudar períodos relacionados ao corpo e saúde do nativo, calcule-se então o Lote da Fortuna e use o signo onde cair como ponto de partida. Uma exceção importante a isso é que, se os Lotes do Espírito e da Fortuna caírem no mesmo signo em um mapa, para os propósitos de Liberação Zodiacal, move-se o Lote do Espírito um signo à frente. Essa regra é ditada por Valens e mesmo que um pouco estranha, funciona muito bem na prática.

Qualquer que seja o signo contendo o lote em questão, tanto o signo quanto seu regente se tornam ativos pelo número de anos associados com tal signo. Uma vez que o nativo completa o período associado àquele signo, move-se então para o próximo signo em ordem zodiacal, que se torna ativo pelo número de anos associado a si, seguindo assim. Dessa maneira, a técnica é similar a Profecções Anuais, já que se move signo por signo em ordem zodiacal. A diferença é que Liberação Zodiacal progride pelos signos em um ritmo variável, dependente do período planetário associado a cada signo.

Diagram 8Aqui está um exemplo utilizando o mapa de George W. Bush. (Ver Diagrama 8) Para estudar períodos relacionados a sua carreira, começaríamos do Lote do Espírito, que está em Touro em seu mapa. Touro é regido por Vênus, cujo período é 8 anos, portanto, pelos primeiros 8 anos da vida de Bush, Touro e Vênus seriam ativados, de quando nasceu em 1946 até a completude do período em 1954. Uma vez que os 8 anos tenham passado, Touro deixa de ser o signo ativo e o próximo signo, Gêmeos, é ativado pelo número de anos associados. Assim que os 20 anos de Gêmeos se completam, Câncer, o próximo signo, se torna ativo por 25 anos. Após os 25 anos de Câncer, Leão é ativado por 19 anos. Esse processo continua por quanto durar a vida do nativo, passando de um signo para outro em ordem zodiacal.

Tabela 1: Períodos gerais de Liberação Zodiacal de Bush:
Touro 06/07/1946
Gêmeos 25/05/1954
Câncer 09/02/1974
Leão 01/10/1998
Virgem 23/06/2017

O que você acaba tendo é uma lista de anos nos quais certos signos são ativados. Alguns desses períodos são bem longos, então a maioria das pessoas só percorrem alguns signos durante suas vidas. Os períodos de Bush seriam assim (Ver Tabela 1)

Subperíodos

Dentro de cada um desses períodos gerais, há também subperíodos que são designados um certo número de meses, baseado nos mesmos períodos planetários. Por exemplo, Câncer se torna ativo por 25 meses ao invés de 25 anos, Leão é ativado por 19 meses ao invés de 19 anos, Virgem e Gêmeos viram 20 meses em lugar de 20 anos, seguindo assim. Esses subperíodos estão contidos em períodos gerais, começando com o mesmo signo que está ativado no nível anual. Por exemplo, quando um período de 25 anos de Câncer se inicia, o primeiro subperíodo nele são 25 meses de Câncer. Uma vez finalizados os 25 meses de Câncer, movemos para o próximo signo, Leão, por 19 meses. Daí Virgem começa durando 20 meses e assim em diante. Os subperíodos continuam a se mover pelo zodíaco, ativando cada signo até que o período geral se complete. Para dar um exemplo de como isso parece, aqui estão os subperíodos dentro dos primeiros 8 anos de período de Touro de Bush (Ver Tabela 2).

Tabela 2: Os primeiros subperíodos de Bush
Touro N1* 06/07/1946
  Touro N2**: 07/06/1946 (8 meses)
  Gêmeos N2: 03/03/1947 (20 meses)
  Câncer N2: 10/23/1948 (25 meses)
  Leão N2: 11/12/1950 (19 meses)
  Virgem N2: 06/04/1952 (20 meses)
  Libra N2: 01/25/1954 (8 meses)
Gêmeos N1 05/25/1954
Câncer N1 02/09/1974
Leão N1 10/01/1998
Virgem N1 06/23/2017

Então, em qualquer dado momento da vida de alguém, pode-se ter vários signos ativos relativos a um lote específico: período geral (nível 1) e um subperíodo (nível 2). É importante notar aqui que, em Liberação Zodiacal, períodos gerais são calculados utilizando anos ideais de 360 dias e os subperíodos utilizam meses ideais de 30 dias, fazendo com que os subperíodos sejam exatamente 1/12 dos períodos gerais.7

Os subperíodos também podem ser divididos em níveis 3 e 4 para se estudar divisões ainda menores de semanas e dias, mas para os propósitos deste artigo, focaremos apenas nos primeiros dois níveis de períodos.

Interpretando períodos de Liberação Zodiacal

Uma vez que tenha determinado que um signo específico está ativado no mapa de alguém, pode-se olhar a três fatores para encontrar as implicâncias para sua vida durante aquele período:

  1. A natureza de quaisquer planetas no signo ativado.
  2. A natureza de quaisquer planetas configurados ao signo ativado, seja por oposição ou quadratura.
  3. A natureza e condição do planeta regente do signo ativado.

Aqui, focaremos nos dois primeiros pontos, já que percebi que os planetas, quer estejam no signo ativado ou em aspecto tenso com este, são frequentemente os fatores mais relevantes para determinar a qualidade de um período.

Quando tentando determinar a natureza de um período de Liberação Zodiacal de um nativo, o primeiro passo é identificar quais serão os períodos mais positivos e negativos na vida de uma pessoa. Para isso, deve-se primeiro identificar o benéfico favorável ao séquito e o maléfico contrário ao séquito. Como apontado na primeira parte desta série, esses planetas seriam Júpiter e Marte em um mapa diurno e Vênus e Saturno em um mapa noturno. Isso nos traz à nossa primeira regra interpretativa:

  1. Os signos que tanto contêm ou estão configurados por quadratura ou oposição ao benéfico que seja favorável ao séquito coincidirão com alguns dos momentos mais positivos da vida do nativo quando ativados.

A dedução a partir desta regra é:

  1. Os signos que tanto contenham ou estejam configurados por quadratura ou oposição com o maléfico contrário ao séquito coincidirão com alguns dos momentos mais negativos da vida de um nativo quando ativados.

Note que a ênfase aqui é no planeta mais positivo e no mais negativo no mapa, já que esses dois tendem a significar os períodos mais indubitavelmente positivos ou negativos ao longo da vida. Apesar da ativação dos signos configurados ao benéfico contrário ao séquito coincidirão às vezes com períodos positivos, esses não são geralmente os mais positivos. Similarmente, a ativação dos signos configurados ao maléfico favorável ao séquito coincidirão com períodos de dificuldade, mas estes tendem a ser relativamente leves se comparados aos que contém o maléfico contrário ao séquito. Assim, a clareza dos períodos associados com os planetas mais positivo e mais negativo no mapa permite que se possa rapidamente identificar os períodos mais favoráveis e desfavoráveis na vida do nativo.

Quando usando a técnica de Liberação Zodiacal do Lote do Espírito, os períodos serão geralmente favoráveis ou desfavoráveis no contexto da carreira e direção da vida do nativo, enquanto se fizermos a Liberação Zodiacal do Lote da fortuna, as questões serão voltadas ao contexto da saúde do nativo e circunstâncias gerais. 

Diagram 9Utilizaremos o mapa do ator Charlie Sheen para demonstrar esse conceito. (Ver Diagrama 9) Seu Lote do Espírito está em Virgem, então partimos desse signo para estudar os períodos de sua carreira. A Tabela 3 nos mostra seus períodos gerais.

Tabela 3: Períodos de Liberação Zodiacal de Sheen
Virgem N1 04/09/1965
Libra N1 22/05/1985
Escorpião N1 10/04/1993
Sagitário N1 22/01/2008
Capricórnio N1 11/20/2019

Sheen iniciou sua carreira profissional como ator e começou a aparecer em filmes no meio dos anos 80. Isso coincidiu com o início de um período de 8 anos de Libra em Liberação Zodiacal a partir do espírito. O único planeta nesse signo é Vênus, que por acaso é a benéfica favorável ao séquito, já que este é um mapa noturno. Nenhum maléfico faz aspecto tenso com este signo, então esperaríamos que o período fosse muito positivo para o nativo, como de fato foi. Ele apareceu numa porção de filmes durante esse tempo e, ao final dos 8 anos de Vênus, foi-lhe dada uma estrela na calçada da fama de Hollywood. Em 1993, Sheen mudou para um novo período de Escorpião por 15 anos. Em seu mapa, Escorpião contém Marte, que aqui está em seu próprio signo, e o outro único planeta fazendo aspecto tenso com esse signo é Mercúrio em Leão. Marte é um maléfico, mas já que este é um mapa noturno, suas significações negativas são contidas ao ponto de que surgiram apenas algumas dificuldades superáveis durante a duração do período. Durante esses 15 anos, Charlie Sheen atingiu o que pode ter sido o pico de sua carreira, por razões que discutiremos depois.

Em 2008, esse período de 15 anos de Escorpião veio ao fim e iniciou-se um período de 12 anos de Sagitário. O único benéfico configurado a Sagitário por aspecto tenso é Júpiter em Gêmeos, mas Júpiter é o benéfico contrário ao séquito e, portanto, não tão benéfico quanto poderia ser. Por outro lado, o único maléfico configurado a Sagitário é Saturno, que é contrário ao séquito e, portanto, o planeta mais difícil no mapa. Apenas baseados na presença de Saturno em Peixes, sabemos que os períodos mutáveis tenderão a ser os mais difíceis para Sheen, pois a ativação desses signos sempre ativará Saturno. Quando Sheen finalizou os 15 anos de Escorpião e iniciou o de Sagitário, ele era o ator mais bem pago da televisão, estrelando no sitcom popular Two and a Half Men. Contudo, apenas dois anos depois de iniciar o período de Sagitário, ele começou a se sabotar devido a problemas com uso abusivo de substâncias. Isso eventualmente culminou na primeira parte de 2011, quando ele foi demitido da série e substituído.

Dessa forma, períodos de espírito são capazes de descrever não apenas as circunstâncias em volta da carreira e sucesso de alguém, mas também às vezes das próprias ações voluntárias do nativo. Nesse caso, as ações do nativo se tornaram autodestrutivas, pouco após iniciar-se um dos períodos mais maléficos.

Angularidade a partir de Fortuna

O mapa de Sheen também é um exemplo útil por destacar uma das facetas mais interessantes da técnica: a habilidade de identificar pontos altos na carreira de uma pessoa. Na exposição de Valens de Liberação Zodiacal, ele diz ao leitor que preste atenção a períodos de Liberação onde o Lote do Espírito chega aos signos angulares (1º, 4º, 7º e 10º) relativos ao Lote da Fortuna, visto que seriam períodos de eminência e notoriedade.8 Isso tem relação com a prática Helenística comum de usar o Lote da Fortuna para gerar um outro set de casas derivadas em signos inteiros, onde o signo de fortuna se torna uma casa 1 alternativa, o segundo signo a partir de Fortuna se torna uma casa 2 alternativa e assim por diante. Nessa parte do tratado, Valens diz especificamente que, no contexto de Liberação Zodiacal, os ângulos a partir de Fortuna são mais poderosos que os ângulos a partir do Ascendente. Como se provou, ao aplicar a técnica em mapas modernos, os períodos em que os ângulos a partir de Fortuna são ativados tendem de fato a coincidir com momentos pivotais de maior importância e atividade na vida de um nativo. Eu me refiro a esses períodos de ativação dos ângulos por Fortuna de “períodos de pico”. Os mais significativos ocorrem quando o nativo chega a um período geral em que o signo é angular (1º, 4º, 7º e 10º signos) a partir do Lote da Fortuna, mas esses picos também podem ser bem significativos quando ativados nos subperíodos.

No exemplo acima, Charlie Sheen tem o Lote da Fortuna em Aquário, então seu período de pico mais importante ocorreu quando a Liberação do Lote do Espírito chegou a Escorpião por 15 anos, que é o 10º signo a partir de sua Fortuna. Esse período durou de 1993 a 2008 e, de acordo com a técnica, este deve ter sido o período mais importante e ativo para ele no contexto de sua carreira.

Voltando ao nosso primeiro exemplo, do mapa de George W. Bush, podemos ver que ele também chegou a um período de pico durante o ponto alto de sua carreira e eminência. Com seu Lote da Fortuna em Escorpião, ele chegou em seu pico quando a Liberação de Espírito alcançou Leão, o 10º signo do Lote da Fortuna, começando em 1998, pouco antes de ele concorrer à presidência pela primeira vez.

Notar os ângulos a partir do Lote da Fortuna não é a única técnica usada para determinar períodos de maior importância e atividade; contudo, pode ser uma ferramenta útil quando analisando mapas para ajudar a determinar alguns dos períodos mais pivotais na vida de um nativo.

O Desatar do Laço

Uma faceta particularmente estranha, mas importante da Liberação Zodiacal é algo que Valens chamou “o Desatar do Laço”, ou a “Quebra da Sequência”. Isso ocorre em períodos de maior duração, quando o período geral é longo o suficiente para permitir que os subperíodos se repitam. Por exemplo, em um período de 20 anos de Gêmeos, os subperíodos se iniciam com 20 meses de Gêmeos, mudando então para 25 meses de Câncer, depois 19 meses de Leão e assim vai. Eventualmente, os subperíodos retornarão para onde começaram, em Gêmeos, mas ao invés de reiniciar o ciclo novamente com aquele signo, de acordo com Valens, pula-se para o signo oposto ao do período geral e continua-se a distribuição dos subperíodos a partir dali. Referem-se a esse salto como “O Desatar do Laço” ou a “Quebra da Sequência”, porque literalmente quebra a ordem de signos ativados nos subperíodos, reiniciando o ciclo pelo meio do caminho. Isso ocorre em qualquer signo que tenha o período maior que 17 anos, o tempo aproximado que leva para os subperíodos completarem um ciclo.

Diagram 10Aqui está um exemplo utilizando o mapa de Al Gore novamente. Gore Tem o Lote do Espírito em Escorpião e fortuna em Áries. (Ver Diagrama 10). Ele começou um período de pico de 27 anos em Liberação Zodiacal de espírito quando chegou em Capricórnio, em 1974, que é o 10º signo relativo a seu Lote da Fortuna. Pouco depois de começar o período de pico de 27 anos, ele iniciou sua carreira na política, decidindo concorrer pela primeira vez para a Câmara dos Representantes dos EUA em 1976.

Tabela 4: períodos de Liberação Zodiacal da Al Gore
Escorpião N1 31/03/1948
Sagitário N1 12/01/1963
Capricórnio N1 10/11/1974
  Capricórnio N2: 10/11/1974
  Aquário N2: 28/01/1977
  Peixes N2: 17/07/1979
  Áries N2: 11/07/1980
  Touro N2: 04/10/1981
  Gêmeos N2: 01/06/1982
  Câncer N2: 22/01/1984
  Leão N2: 10/02/1986
  Virgem N2: 03/09/1987
  Libra N2: 25/04/1989
  Escorpião N2: 21/12/1989
  Sagitário N2: 16/03/1991
  Câncer N2: 10/03/1992 QS
(Desatar do Laço)
  Leão N2: 30/03/1994
  Virgem N2: 21/10/1995
  Libra N2: 12/06/1997
  Escorpião N2: 07/02/1998
  Sagitário N2: 03/05/1999
  Capricórnio N2: 27/04/2000
Aquário N1 21/06/2001

Como vê-se na Tabela 4, depois de entrar no período de 27 anos de Capricórnio, ele lentamente começou a mover-se pelos subporíamos pelas próximas duas décadas, iniciando com Capricórnio por 27 meses, depois Aquário por 30, Peixes por 12, etc. Eventualmente, em 1991, os subperíodos chegaram em Sagitário, o último signo antes de retornar para o signo de Capricórnio, onde o ciclo começou. Contudo, quando os 12 meses de Sagitário se completaram, ao invés de reiniciar o ciclo em Capricórnio, houve um salto para o signo oposto, Câncer. Esse período de Câncer de 25 meses ocorrido após o salto é a “Desatar do laço”. Poucos meses depois de começar seu Desatar do Laço, em março de 1992, ele foi escolhido como companheiro de campanha de Bill Clinton para as eleições presidenciais daquele ano. Mais tarde, Clinton e ele foram eleitos para o posto.

O Desatar do Laço é importante, porque geralmente indica uma transição importante na vida do nativo. No contexto do Lote do Espírito, essa é normalmente uma transição fundamental em sua carreira ou direção de vida. No contexto da Liberação de Fortuna, é diversas vezes uma transição na saúde do nativo ou circunstâncias gerais.

Diagram 11Um bom exemplo de um Desatar do Laço em Liberação Zodiacal do Lote da Fortuna é o mapa da Princesa Diana. (Ver Diagrama 11) Diana tem um mapa diurno, com Marte em Virgem, então sabemos que os signos mutáveis serão os mais difíceis para ela quando se tornarem ativos. Com o Lote da Fortuna em Leão, os primeiros 19 anos de sua vida foram nesse signo. (Ver Tabela 5)

Tabela 5: períodos de Liberação Zodiacal da Princesa Diana
Leão N1 07/01/1961
Virgem N1 23/03/1980
  Virgem N2: 23/03/1980
  Libra N2: 13/11/1981
  Escorpião N2: 11/07/1982
  Sagitário N2: 04/10/1983
  Capricórnio N2: 28/09/1984
  Aquário N2: 17/12/1986
  Peixes N2: 04/06/1989
  Áries N2: 30/05/1990
  Touro N2: 23/08/1991
  Gêmeos N2: 19/04/1992
  Câncer N2: 10/12/1993
  Leão N2: 30/12/1995
  Peixes N2: 22/07/1997 QB
(Desatar do Laço)
  Áries N2: 17/07/1998
  Touro N2: 10/10/1999
Libra N1 09/12/1999

Após os 19 anos de Leão se completaram, em 1980, a Liberação mudou para Virgem por 20 anos, ativando a posição natal de Marte nesse signo. Seu Desatar do Laço de um ano ocorreu 17 anos período adentro, quando os subperíodos saltaram de Virgem para Peixes. Esse período começou em 22 de julho de 1997, pouco mais de um mês antes dela morrer em um acidente automobilístico em Paris, em 31 de agosto de 1997.

Diagram 12 O último mapa que quero mencionar aqui a respeito do Desatar do Laço é o do presidente Barack Obama (Diagrama 12), já que ele será um bom exemplo de o que acontece quando alguém tem um Desatar do Laço após já ter atingido o topo de sua carreira. Obama está atualmente no meio de um período de 30 anos iniciado em 2000. (Ver Tabela 6)

Tabela 6: Períodos de Liberação Zodiacal de Obama
Sagitário L1 05/08/1961 
Capricórnio L1  03/06/1973 
Aquário L1  13/01/2000 
  Aquário L2: 13/01/2000
  Peixes L2: 01/07/2002
  Áries L2: 26/06/2003
  Touro L2: 18/09/2004
  Gêmeos L2: 16/05/2005
  Câncer L2: 06/01/2007
  Leão L2: 25/01/2009
  Virgem L2: 18/08/2010
  Libra L2: 09/04/2012
  Escorpião L2: 05/12/2012
  Sagitário L2: 02/28/2014
  Capricórnio L2: 23/02/2015
  Leão L2: 13/05/2017 QB
(Loosing of the Bond)
  Virgem L2: 04/12/2018
  Libra L2: 26/07/2020
  Escorpião L2: 23/33/2021
  Sagitário L2: 16/06/2022
  Capricórnio L2: 11/06/2023
  Aquário L2: 29/08/2025
  Peixes L2: 15/02/2028
  Áries L2: 09/02/2029
Peixes L1 08/08/2029

Ele terá uma Quebra de Sequência na Liberação Zodiacal do Lote do Espírito começando em maio de 2017, durando por 19 meses. Isso indica que ele terá uma mudança importante de carreira daqui apenas 5 anos. Uma explicação de por que Obama teria uma mudança tão grande em 2017 é que, se for reeleito em 2012 à presidência, seu segundo mandato terminaria no início de 2017, quando o próximo presidente assume. Assim, a Quebra de Sequência de Obama coincidiria com sua transição de ser o atual presidente para ser um antigo presidente. Baseado nisso, tenho mantido a impressão pelos últimos anos de que ele será reeleito ao final de 2012.

Conclusões

O benefício de estudar Astrologia Helenística – e astrologia tradicional, em geral – está no processo duplo de querer entender a motivação por trás das muitas técnicas e conceitos que astrólogos ainda usam hoje, assim como em recuperar técnicas que foram perdidas no curso da transmissão pelos últimos 2000 anos. Isso não é feito simplesmente por motivos antiquados, mas sim pelas ideias e técnicas que têm sido recuperadas terem valor real e aplicação para astrólogos hoje.

Em alguns casos, podemos recuperar conceitos que podem aprimorar técnicas já utilizadas hoje, como com Profecções Anuais para identificar trânsitos importantes. Em outras situações, podemos recuperar técnicas capazes de coisas que nem sabíamos serem possíveis, como usando Liberação Zodiacal para determinar períodos de pico na carreira de alguém.

Por razões óbvias, estas descobertas têm gerado um bom grau de excitação em algumas partes da comunidade astrológica em tempos recentes. Espero que, com esta introdução, eu tenha sido capaz de demonstrar o valor e apelo que o estudo dessa tradição tem para praticantes de astrologia hoje – e porque eu e tantos outros têm chegado à conclusão de que ao refletir sobre o passado, podemos criar uma astrologia melhor para o futuro.

Mais informações sobre Liberação Zodiacal podem ser encontradas nessa revisão recente por Chris Brennan:
 
http://theastrologypodcast.com/2019/02/11/zodiacal-releasing-an-ancient-timing-technique/
Crie seu mapa Helenístico, incluindo Liberação Zodiacal, Aquí.

Dados do mapa e fontes:
(Em ordem alfabética)
George W. Bush, 6 de Julho, 1946; 7:26h EDT; New Haven, CT, EUA (41°N18', 72°W56'); AA: Certidão de Nascimento.
 Francis Ford Coppola,  7 de Abril, 1939; 1:38h EST; Detroit, MI, EUA (42°N19', 83°W02'); AA: Certidão de Nascimento.
 Diana, Princess of Wales, 1 de Julho, 1961; 19:45h GDT; Sandringham, Inglaterra (52°N40', 00°E30'); A: Memória da Mãe.
 Al Gore,  31 de Março, 1948; 12:53h EST; Washington, D.C., EUA (38°N54', 77°W02'); AA: Certidão de Nascimento.
 George Lucas, 14 de Maio, 1944; 5:40h PWT; Modesto, CA, EUA (37°N39', 121°W00'); AA: Certidão de Nascimento.
 Barack Obama, 4 de Agosto, 1961; 19:24h AHST; Honolulu, HI, EUA (21°N18', 157°W51'); AA: Certidão de Nascimento
 Charlie Sheen, 3 de Setembro, 1965; 22:48h EDT; New York, NY, EUA (40°N42', 74°W00'); A: Linda Clark o cita.

Notas e Referências:
 1. Eu gostaria de agradecer a Shannon Garcia, Patrick Watson e especialmente Leisa Schaim pela ajuda e comentário enquanto eu escrevia o artigo. Gostaria também de agradecer Tem Tarriktar e Nan Geary pela ajuda e paciência com o processo da escrita.
 2. Vettius Valens, Anthology, livro 4, 17:2, editado em Vettii Valentis Anthologiarum Libri Novem, ed. David Pingree, Teubner (Leipzig), 1986.
 3. Co-presença é quando dois planetas estão juntos no mesmo signo. Isso é essencialmente interpretado como um tipo de conjunção baseada no signo.
 4.Entrevista com Francis Ford Coppola, Academy of Achievement, 17 de junho de 1994, www. achievement.org/autodoc/page/cop0int­3 (recuperado em fevereiro de 2012)
 5. Planetas estão em aversão quando estão em signos não configurados entre si. Esse é um exemplo de uma boa aversão, já que Saturno não é capaz de ver Vênus.
 6. Valens, Anthology, livro 4, capítulos 4-10. Assim como na maioria dos sistemas de Regentes do Tempo, Valens não dá um nome específico à técnica, mas no lugar disso refere-se a ela de maneira geral como uma técnica de “Liberação”, que envolve os signos contendo os Lotes do Espírito e da Fortuna. A técnica foi originalmente nomeada de “Zodiacal Releasing” por Robert Schmidt, do projeto Hindsight.
 7. Os períodos de Liberação Zodiacal usados neste artigo foram calculados utilizando o programa Delphic Oracle, de Curtis Manwaring da Zoidiasoft Technologies. 
 8. Valens, Anthology, 4, 7:14-17.

Fontes das Imagens:
 Todos os diagramas foram fornecidos pelo autor.
Outra Ilustração: CC0 Creative Commons, via pixabay.com

Publicado pela primeira vez em: The Mountain Astrologer, Abr/Mai 2012.

Autor:
Chris BrennanChris Brennan é um astrólogo profissional de Denver, Colorado, EUA. Ele foi presidente da Associação para Jovens Astrólogos e antigo Diretor de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa Geocósmica. Desde 2012, ele é anfitrião do The Astrology Podcast. Se especializa em Astrologia antiga e é autor de um livro sobre o tema, chamado “Hellenistic Astrology: The Study of Fate and Fortune”. Para mais informações, visite seu site: www.ChrisBrennanAstrologer.com.

© 2012/19 - Chris Brennan - published by The Mountain Astrologer

Posições actuais dos planetas
7-Ago-2023, 10:20 UT/GMT
Sol1440'43"16n26
Lua213'18"12n36
Mercúrio1153'55"6n00
Vênus244'30"r7n04
Marte1714'56"5n50
Júpiter1418'23"14n57
Saturno517'32"r11s12
Urano2252'48"18n11
Netuno2719'28"r2s13
Plutão2844'42"r23s04
Nodo Lun.true2755'19"10n44
Quíron1952' 5"r9n12
Explicação dos símbolos
Mapa do momento